domingo, 17 de agosto de 2008

Triturar e dar a comer! (Sporting 2-0 FC Porto)


Rochemback, o novo temporizador do futebol do Sporting, avisou que, mesmo em início de temporada, a equipa já estava a todo gás; Jesualdo Ferreira, cauteloso, procurando, quiçá, afastar do espectro psicológico dos seus jogadores os desaires precedentes ante os lisboetas - derrotas que haviam custado uma Taça de Portugal e ainda uma Supertaça igualzinha àquela que se discutiu no Algarve -, advertiu que o FC Porto ainda não tinha um colectivo seguro.

Ficou a ideia de que os verdes e brancos, com um discurso mais incisivo, arrancavam para este clássico com superior determinação e, até, maior vontade de vencer. E, na prática, o conjunto sportinguista confirmou as boas indicações deixadas nos testes de pré-temporada, apresentando o mesmo esquema táctico de base da era Paulo Bento, o 4x4x2 losango, mas com relevante incremento: a elasticidade do meio-campo, agora mais largo e dinâmico na exploração dos movimentos laterais e verticais.

Este crescimento, fruto dos ensaios feitos para a implantação do 4x4x2 puro - com médios alinhados - como sistema alternativo fiável, resultou no favorecimento da segurança defensiva e, por outro lado, reflectiu-se, de forma positiva, no aproveitamento das alas, de tal modo que, ontem, os posicionamentos interiores de Izmailov e Rochemback quase passavam despercebidos. O losango perdeu rigidez, ganhou amplitude e, nesta ocasião, triturou o coração dos dragões - Lucho, Raul Meireles e Guarín.

Se o esquema clássico de Jesualdo Ferreira, o 4x3x3 com um vértice defensivo, já em confrontos anteriores tinha absorvido parte significativa da responsabilidade das derrotas, desta feita acusou ainda maiores dificuldades, tanto nas manobras de organização no meio campo defensivo, quando obrigado a suster as investidas leoninas, como na criação de lances que confundissem o adversário e pudessem conduzir ao aproveitamento das qualidades dos flanqueadores e posteriores combinações com o homem de referência do eixo de ataque - Farías, incipiente, seria rendido por Hulk (57').

Com apenas três unidades no miolo - para quatro do Sporting - e tendo Rodríguez e Lisandro (durante toda a primeira parte) enfiados nos corredores laterais - onde os defesas Sapunaru e Benítez estiveram demasiado retraídos -, os portistas só em ataques rápidos conseguiram criar algumas situações de igualdade ou superioridade numérica - e Lucho mandou uma bola ao poste (33'), pois a capacidade de recuperação de Romagnoli e de Rochemback não é a mesma de Izmailov ou Moutinho, o "novo" trinco.

A "folga" deste, aliás, só foi perturbada no segundo tempo, quando Lisandro derivou para a zona central, como referência ou no apoio (a Hulk), período em que os dragões também soltaram Lucho para as laterais ou para a posição dez. Mas a luta a meio campo estava irremediavelmente perdida.

Bem à frente da linha média leonina, emparceirando com Derlei, Yannick Djaló, mais adulto e discernido do que há um ano, sempre apontado à baliza de Helton e impondo velocidade para complicar a vida a Pedro Emanuel, tratou dos golos: um a fechar a primeira parte e outro - esqueceu-se de agradecer a Sapunaru pela aselhice… - à passagem do minuto 58. Na retaguarda, a fechar a baliza, outro miúdo vai enrijecendo a barba, parecendo decidido a pulverizar o (ténue) fantasma chamado Stojkovic.

Falta-lhe, no entanto, adquirir confiança no jogo de pés, ou então que todos os colegas entendam que a bola, quando atrasada, tem de ser endossada para o seu pé canhoto. Além de parar os tiros de Guarín (38'), Lisandro (54'), Raul Meireles (65') e Hulk (66'), fez o mais difícil na missão de um guarda-redes: com uma estirada felina, parou um penálti do especialista Lucho (73'). Para gáudio de quem vê nele um novo Vítor Damas!

E para desencanto dos portistas, que esmoreceram de vez...

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